Tomando como base a definição de Scott Mccloud de que histórias em quadrinhos são “imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador.”, atenhamo-nos nessa presente pesquisa a abranger a hq além dos comics norte americanos, pois por vezes o termo hq é vinculado aos comics.
Mickey Dugan, o garoto Amarelo
A história da arte seqüencial data muito antes de Yelow Kid, indo desde hieróglifos egípcios às chamadas pinturas rupestres. Mas, ao molde dos quadrinhos modernos, temos vários artistas e culturas diferentes que contribuíram para transformação do quadrinho como ele é hoje.
Temos o surgimento simultâneo dos quadrinhos modernos em várias partes do mundo, sendo chamados nos EUA de comics, na França de bande dessinées(“bandas desenhadas”), na Itália de fumetti(“fumaça”, comparando os balões de fala como fumaça que sai da boca dos personagens), tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangá no Japão, mawha na Coréia e histórias em quadrinhos ou gibi no Brasil.
Nos Eua, entre 1894 e 1895 foi publicado no jornal norte americano New York Sunday World a tira The Yelow Kid, de Richard Felton Outcault. Mickey Dugan, o garoto amarelo, era uma criança dentuça de sorriso bobo que vestia um pijama amarelo no qual apareciam mensagens escritas. Mas logo depois Outcault foi contratado pelo jornal rival, e as mensagens de Yelow Kid serviam para atacar publicamente a concorrência. Daí surgiu o termo imprensa amarela e o menino de sorriso bobo passou a ser sinônimo do jornalista que inventa fatos.
Entretanto, 26 anos antes, por volta de 1869 aqui no Brasil foi publicado na revista Vida fluminense, o que pode ser chamado de a primeira hq brasileira: As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte do italiano naturalizado brasileiro Ângelo Agostini. Mais tarde, Ângelo seria homenageado pela Associação Nacional dos Cartunistas com a criação do prêmio Ângelo Agostini para os melhores quadrinhos nacionais de cada ano, em diversas categorias.Página de As aventuras de Nhô Quim ou impressões de uma viagem à corte
Curiosamente a história dos quadrinhos aponta também para outro artista. Em 1827, o suíço Rodolphe Töpffer combina texto e imagem num estilo de desenho caricatural concebendo Les Amours de Monsieur Vieux Bois, chamado por ele mesmo de histórias ilustradas ou Literatura em Estampas. Apesar disso, esses trabalhos só vieram a ser publicados a partir de 1833, com Histoire de M. Jabot, por causa da possibilidade dessas histórias burlescas afetarem a sua respeitabilidade como docente e escritor, tal qual era a sua própria visão sobre as histórias ilustradas. Com textos interdependentes da imagem, as histórias de Töpffer não possuíam balões de fala, mas ainda assim era uma combinação de texto e imagem num estilo semelhante às hqs de Ângelo Agostini.
Fragmento de uma história de Topffer
Entretanto, “Nem o próprio Topffer conseguiu compreender todo o potencial de sua invenção, tomando-a como simples hooby”5, Segundo dois trechos de seus escritos, datados de 1845:
“...além disso, elas atraem sobretudo crianças e as classes inferiores...”
Goethe, um de seus amigos, foi quem incentivou Topffer a editar suas histórias e conforme disse depois:
Mas ao se tratar do modelo moderno de quadrinhos, com texto e imagem e num nível mais avançado, com balões de fala, uma outra cultura que já possuía seus próprios quadrinhos desenvolveu um estilo de narrativa também próprio, à parte do mundo ocidental. O Mangá(quadrinho japonês) mais antigo já localizado: Tobae Sankokushi, de 1702. Sua estrutura já era dividida em quadrinhos, com personagens e até mesmo balões. E se nos EUA os quadrinhos foram bastante depreciados por alguns e mesmo o suíço Rodolphe Töpffer encarando suas histórias estampadas como simples hobby, o extremo inverso aconteceu no japão. De uma rica tradição gráfica, 50% do papel produzido no japão é destinado a produção do mangás6. A palavra mangá significa rabiscos descompromissados ou imagens involuntárias e o termo deriva da obra Hokusai Manga, de Katsushika Hokusai, uma série de livros ilustrados em 15 volumes de 1814 a 1878.
Fragmentos de Hokusai Manga
Contudo, a história do mangá se inicia muito antes de Tobae Sankokushi de 1702 ou de Hokusai Manga, de 1814. No século XII encontramos o emaki-ono, uma gigantesca gravura de 10 metros de comprimento em rolo, no qual o ato de desenrolar deste apresentava uma narrativa para o espectador. Tecnicamente, o emaki-ono não se encaixaria na definição de Scott Mccloud(imagens pictóricas e outras justapostas em seqüência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador), pois é composto apenas de uma imagem. Mas pelo aspecto narrativo do processo de descoberta da imagem através do desenrolar do rolo, temos uma situação que compara-se á leitura do quadrinho moderno, na qual as páginas adiante da que se está lendo são um mistério para quem lê(a não ser que se folheie o quadrinho inteiro antes de lê-lo), e mesmo a leitura de cada quadrinho de uma mesma página é um processo lento, no qual o leitor assimila a informação conforme lê mais quadros. Então seria como se, pela gradual apresentação da imagem, apresentassem-se quadros individuais de partes da mesma imagem, constituindo assim uma revelação progressiva, apesar de não existirem sarjetas(os espaços em branco entre cada quadro). E, assim como foi visto, a presença ou não de letras não implica na definição de histórias em quadrinhos.
Por ter nascido e crescido sem influência inicial dos comics, o mangá apresenta certas particularidades em estilos de narrativa visual que merecem comparação e estudo(conforme será visto mais adiante). O mesmo estilo de narrativa visual do mangá mais tarde veio a influenciar os comics, assim como os comics influenciaram o mangá em outros aspectos, o que enriqueceu e muito a cultura dos quadrinhos.
Talvez não se tenha em conta um "alguém que realmente tenha inventado a história em quadrinhos", e considere-se que talvez não seja algo muito de se difícil imaginar, a idéia de juntar letra e imagem pictórica, sendo possível outros artistas terem inventado o mesmo mecanismo na obscuridade do anonimato.
Trecho de uma entrevista com Will Eisner, retirado do blog maisquadrinhos.blogspot.com:
Pelos motivos apontados até aqui talvez seja errôneo constatar que as histórias em quadrinhos sofreram diversas influências de alguns pensamentos ou culturas, pois isso implicaria em afirmar que já haveria um modelo de quadrinhos pronto em algum lugar, quando na verdade não é isso que ocorreu. Histórias em quadrinhos são hoje um aglomerado de conceitos e informações, uma linguagem que se refina conforme o tempo de sua evolução desde as cavernas. São resultado de uma série de experiências e testes da forma de contar histórias.
5. Mccloud, Scott. Desvendando os quadrinhos, p.17
6. Vasconcellos, Pedro Vicente Figueiredo. Mangá-Dô: Os caminhos das histórias em quadrinhos japonesas, p.19...............................................................
Esse post faz parte de nossa pesquisa. Para saber mais, leia:
Introdução
Por que quadrinhos?
Press on
Por uma definição: Arte Sequencial
Definindo o quadrinho
Origens
Quadrinhos para além dos super-heróis
A linguagem e seu vocabulário
Iconografia: letra e imagens pictóricas
Texto e imagem
Pensamento ocidental X oriental
Quadrinhos Mudos
Falando sem abrir a boca uma vez
Viabilidade como mídia de comunicação de massa
Exemplos
Síntese
O projeto
Adoção de partido
Desenvolvimento do partido adotado
Experimentação
Conclusão?
2 comentários:
mangá é antigo, mas o que agente conhece de mangá foi feito pelo Tezuka, estilo de desenho, narrativa.
o Tezuka recebeu influência dos comics americanos, filmes de ficção científica, disney, Max Fleisher e criou algo próprio.
muito bom mesmo.
=)
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