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sábado, 27 de junho de 2009

Um sonho

Tá certo. Você via Jaspion quando era criança. Cresceu vendo Jiban, Jiraya e putz! Black Kamen-Rider(e outros que a nostalgia me fez relembrar)... E depois acompanhou Cavaleiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho, Shurato. Mas não parou por aí não. Depois do primeiro, que talvez você não se lembre qual é, animes e produções japonesas passaram a ser algo que seus olhos precisavam vislumbrar, e que seu sangue nescessitava para correr. Exageros a parte, eles eram diferentes dos super-heróis americanos. Eram mais mágicos e fabulosos em suas histórias, onde se superavam a cada capítulo, morriam por seus amigos ou cortavam os pulsos para fazer seu sangue reviver uma armadura de bronze. Usavam uma espada olímpica para derrotar seus inimigos, atiravam feiches de luz pelos dedos. A ânsia e desespero pela chegada da hora do programa favorito era a mesma quando se aproximava do final. Desespero também da sua mãe, que tinha que aturar um moleque correndo aos gritos pela casa, espada na mão, golpeando inimigos invisíveis ou subindo/pulando no sofá e golpeando acidentalmente a irmã e depois, você sofria com a bumbum ardendo do tapa que levara da mãe, ou com os ouvidos sofrendo por ouvir a bronca do pai.

Mas não era só coreografias. Quando se acalmava, você deitava no chão, lápis, giz de cera, canetinha por todo lado e um papel. E você, alí. Desenhando. Reproduzindo, ou tentando, os personagens que via na televisão. Eles se movimentavam no papel. Ou na sua cabeça. Ou ainda: na sua cabeça e no papel, simultâneamente, tendo como fundo musical ou efeitos sonoros os sons que você produzia com a boca. Quando alguêm explodia, a mão nervosa delineava freneticamente rabiscos circulares, a fim de destruir o bonequinho de palitinho, e o papel se molhava por causa do "Bruuuushhhhhhhmmmmmmm" que você babava involuntariamente enquanto desenhava.

E você não só assistia desenhos. Você desenhava também. Mas não era só isso. Gostava de ler quadrinhos do "espetacular amigão da vizinhaça", de um certo "homem de aço com uma cueca vermelha sobre a calça azul" ou do "mal encarado mutante de três garras em cada mão". Era tanto herói que você queria o seu. Vestiria uma capa em você mesmo e sairia voando por aí.

Então você treinou. Desenhou muito. Acalmou seu espírito para não babar mais nas folhas. Deixou o som das exlplosões para representá-los graficamente em onomatopéias e dividiu as ações em quadros, para, não só você, mas outros entenderem o que se passavam naquela história. E você gostou. "Viu que era bom." Quando você era pequeno, todos os seus coleguinhas viam os mesmos desenhos que você, alguns até arriscavam desenhar também. O tempo passou e você continuou, enquanto os outros não. Agora você era um desenhista, o orgulho da mamãe e do papai.

Depois de algum tempo, conheceu o mangá. Parece que foi uma revolução de não-cores. O inverso do sistema americano. Em tudo. Ação, onomatopéias, forma de ler, retículas. Decidiu que faria quadrinhos. Não. Quadrinhos não. Faria o seu mangá, sua história, seus personagens. Seu universo.

Imagine então trabalhar com isso! O sonho recém gerado em sua cabeça inocente. Crescia com essa idéia fixa, e descobriu muita coisa valiosa. Talvez não tão animadora, mas concerteza, informações valiosas.

"Você ainda vai ser alguém muito famoso!"
"Esse menino é um artista...!"
"Ele tem futuro"

Essas frases concerteza você ouviu em sua trajetória. De conhecidos vislumbrados pelo seu talento, construído nas incontáveis horas de ócio criativo. E também, certas frases te fizeram pensar. E se não as ouviu, concerteza vai ouvir alguma delas, todas elas e mais um pouco, ou alguma variação delas:

"Isso não dá dinheiro."
"Vai morrer pobre."
"Vai fazer direito ou medicina... Meu filho, artista? Isso é coisa de maluco!"
"Sobreviver de quadrinhos no Brasil é muito difícil..."

Vai descobrir que, se quadrinhos é uma "profissão" trabalhosa de vingar, reduzir sua criação a um determindo estilo é restringir ainda mais sua arte. E ler somente determinado tipo de quadrinhos é fechar sua mente e seu vocabulário a um pequenino mundo. Ler mangá muita gente lê. Desenhar muita gente desenha, e muito bem. Mas cultura... Pouca gente tem. Conteúdo poucos tem de verdade em suas obras. Se você quer fazer um fanzine que seja mais um entre tantos outros, que não passe de cópia do seu artista favorito, você tem total liberdade para isso. Pode até vender. Sempre para um mesmo grupo de pessoas que se encontram nesses grandes eventos de anime. Vender vai. Talvez muito, muito talvez venda bastante... Mas tenha certeza: tem um limite.

Pode ter certeza. Se você é limitado, isso de alguma forma se refletirá na sua obra. Cliches são vistos a toda hora. alguém que saca das coisas notará isso no seu trabalho e enxergará potencial, se houver um diferencial. Se for criativo, inovador. É claro que nada é tão magico assim. Existe muita gente boa por aí que está escondida no anonimato.

Portanto, conheça mais da área que escolheu e além dela também. Desenhar é bom e legal, mas procure saber dos grandes mestres que vieram antes de você, os clássicos que todo quadrinhista deveria conhecer. Não só quadrinhístas, mas ilustradores também. Não só ilustradores, mas artistas também. Isso mesmo. Comece a frequentar esposições, e ler mais livros. Lembra do Picasso? Do Michelangelo, sem ser a tartaruga...?

Mas não esqueça do caminho que escolheu. Não desfaça dos planos que traçou. Amplie seu mundo, cimente sua casinha, use pedras em vez de palha ou madeira e ela não voará se o vento soprar. Busque, fuçe, trabalhe, pesquise, estude... Conheça.

Um comentário:

Yabai disse...

caraca... que texto lindo e motivador!

realmente ... me tocou!

=)