viva

Cada linha meus olhos sentem
Como se meus dedos sentissem
Como se houvesse relevos nas cores
Como se tinta fosse sangue
e o desenho gritasse
Eu ouço
Poros do papel respirando

Na página, minha mão
Lendo o movimento
Escutando o folhear
Música na minha mente

Folhas em galhos
Branco partido, repartido, limitado
Quadrinizado
Quatro paredes em linhas
Que meus olhos sentem

Gigantesco sistema
inúmeras paredes
incontáveis quartos
um único branco
em movimento parado

Mas não é bem assim
Detalhe mudo
imagem que não nasceu
Por não ser viva
Mas ela diz, sem boca ter
Sem coração escondido
Posso
entender, e eu ouço

Virtuosismo gráfico
Mancha viva mesmo que não fale
Ela não diz,
Mostra o que dizer
Diz o que entender, e eu ouço

Mimicamente sem representar
Ela apenas está
Ela não nasceu
Mas está lá
Não evoluiu, registro único
Não evoluiu,
Pelo menos não depois
Que a mão do artista a libertou
não evoluiu,
Mas nunca esteve presa
E nunca estará

Ela se move
Livre em um lugar onde as idéias nascem e crescem,
Onde o tempo é uma questão de sentir
E onde o desejo flui por onde quiser

Ela se move
Antes de nascer
E quando ocorre, se torna única
Quando nasce, não há movimento; a não ser da mão do artista
Pois ela não é
"Ela está."
É o que se quer que seja

Pois isso eu sei,
Isso é o que eu quero que seja
Que a mim ela pertença,
E em mim permaneça.